História do Egito
O Egito abrigou uma das mais antigas civilizações registradas na História da Humanidade. Também, uma das mais importantes e mais poderosas. Os mais antigos registros da civilização egípcia datam de cerca de seis mil anos atrás, através de hieróglifos, um sistema rudimentar de escrita dominado por escribas.
O território do atual Egito é habitado por humanos há muitos milhares de anos. Com o passar do tempo, povos nômades foram se estabelecendo no Vale do Rio Nilo, formando sociedades. Desde o Neolítico, as tribos egípcias estavam organizadas em duas partes, com culturas distintas: Alto Egito (sul) e Baixo Egito (norte). O desenvolvimento urbano na parte norte era mais desenvolvido, principalmente devido às grandes áreas férteis do Delta do Nilo. A parte sul (Núbia), entretanto, tinha maior riqueza artística.
Cerca de 3150 aC, as duas partes foram unificadas sob o governo de Menés (também chamado de Narmer), tradicionalmente considerado ser o primeiro faraó. Menés governava em Tinis (Tjenu), uma cidade do Alto Egito, cuja localização não é bem conhecida. Acredita-se que ficava a jusante de Luxor. Após a unificação, Menés transferiu a capital para Mênfis, em área da atual Província de Gizé.
A partir de 2780 aC, foram construídas as Grande Pirâmides. Nos séculos seguintes, o Egito tinha relações comerciais intensas com povos vizinhos, mas também guerreavam com esses povos, em favor de seus interesses. Após a morte de Pépi II, em 2187 aC, o Egito entrou em um período de instabilidade e foi dividido. Mas, sob o reinado de Mentuhotep II (c. 2061 aC – 2010 aC), o Egito foi reunificado.
Nos séculos seguintes, ocorreram ondas migratórias, para o Egito, de povos semitas, chamados genericamente de hicsos (estrangeiros) e que incluíam os hebreus. Em torno de 1700 aC, os hicsos dominaram a parte oriental do Delta do Nilo e estabeleceram sua capital em Avaris (Hut-waret, atual Tall al-Dabʿa). Por volta de 1650 aC, dominaram todo o Egito e seus reis também eram faraós, mas foram derrotados por volta de 1521 aC, por Amósis. Possivelmente, nessa época, os hebreus foram escravizados. Por volta de 1550 aC, a capital foi transferida para Tebas.
No governo de Tutmés III (1480 aC - 1448 aC), o Império Egípcio teve sua maior expansão, dominando territórios da Ásia, incluindo o atual Líbano.
Por volta de 1353 aC, Aménofis IV (Amenhotep IV) subiu ao trono do Egito. Depois, mudou seu nome para Akenaton, em homenagem ao deus do Sol Aton. Akenaton casou-se com a bela Nefertiti e construiu uma nova capital, chamada de Aketaton ("Horizonte de Aton", em área da atual Tell el-Amarna), mas abandonada após sua morte, cerca de 1336 aC. Subiu ao trono, seu filho Tutankamon, que retornou a capital para Tebas, por volta de 1332 aC, e retomou os antigos cultos egípcios.
Em 1290 aC, Ramsés II subiu ao poder. Seu reinado marcou um dos períodos mais gloriosos do Egito, com muitas vitórias militares. Provavelmente, durante seu reinado, os hebreus, comandados por Moisés, conseguiram deixar o Egito.
A partir de cerca de 800 aC, o Egito entrou novamente em declínio e dividiu-se em regiões autônomas, facilitando a conquista por outros povos. Em 720, o Egito foi invadido por sudaneses. Os assírios dominaram o Egito, em 662 aC, mas, a partir de 655 aC, os egípcios reconquistaram sua autonomia e o Egito voltou a florescer em seu último período como potência independente. Nessa época, a capital do Egito era Saís (Sa El-Hagar), uma cidade no Delta do Nilo. Contou Heródoto que o Faraó Necao II (610 aC - 595 aC) financiou navegadores fenícios para contornarem a África, numa viagem que durou cerca de dois anos. Somente mais de dois mil anos depois, o feito foi novamente realizado pelos portugueses.
Em 525 aC, os persas, comandados por Cambises II, derrotaram os egípcios na batalha de Pelusa e derrubaram o Faraó Psamético III. Posteriormente, os egípcios conquistaram alguma autonomia com apoio dos gregos, mas o domínio persa voltou em 341 aC.
No final de 332 aC, o Egito foi conquistado por Alexandre, o Grande, que se consagrou em Mênfis. Depois, ele visitou o Templo de Amon, no Oásis de Siwa, e seguiu para a costa do Mediterrâneo, onde definiu o local em que seria construída a cidade que levou seu nome: Alexandria. A ordem da visita ao Oásis e a fundação de Alexandria é, entretanto, controversa. Na primavera de 331 aC, Alexandre retornou à Ásia e deixou Cleômenes como coletor de impostos no Egito.
Após a morte de Alexandre, em 323 aC, os territórios conquistados pelos macedônios foram divididos entre seus generais. O Egito e áreas adjacentes ficaram com o general Ptolemeu, fundador da Dinastia Ptolemaica, que durou até o domínio romano, em 30 aC. Seu filho Ptolemeu II consolidou as fronteiras do Império até a Síria. A capital foi transferida para Alexandria. O grego tornou-se uma língua oficial no Egito, onde a cultura helênica prosperou, mas os deuses egípcios foram aceitos pelos gregos ou associados a deuses gregos. Vários templos egípcios foram construídos ou restaurados.
Durante as Guerras Púnicas, entre romanos e cartagineses, os ptolemeus aliaram-se a Roma. Após a derrota de Cartago, no século 2 aC, os romanos tornaram-se os senhores do Mediterrâneo. Os ptolemeus submeteram-se gradativamente aos romanos. Em 51 aC, Ptolemeu XIII e sua irmã Cleópatra VII subiram juntos ao trono do Egito. Ambos brigavam entre si e criavam intrigas com os romanos. Ptolemeu XIII morreu em 47 aC e Cleópatra VII, em 30 aC. Em seguida, os romanos assumiram o controle do Egito, transformado em província romana.
Nessa época romana, o Cristianismo chegou ao Egito , em meados do primeiro século da Era Cristã. Igrejas e monastérios cristãos foram fundados. No século 4, o Egito era parte do Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, atual Istambul. Em 380, o Cristianismo tornou-se uma religião oficial do Império. Os monastérios cristãos tornavam-se cada vez mais importantes e a população monástica crescia, enquanto o Egito empobrecia. A cultura helênica foi perdendo valor. No século 6, Justiniano mandou fechar os templos egípcios e perdeu-se muito da cultura do Antigo Egito. Foi-se também a Biblioteca de Alexandria e, com ela, o espírito acadêmico da Antiguidade.
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Em 642, o Egito foi dominado pelos árabes, que introduziram sua língua e sua religião islâmica. Os árabes transferiram a capital do Egito para uma nova cidade, chamada de Al Fustat, na área da Fortaleza de Babilônia, região do antigo Cairo. No século 8, o Islamismo já havia dominado o Oriente Médio e todo o norte da África. No século 12, o Egito era um próspero país árabe.
Em 1171, Saladino (Salah al-Din Al-Ayyubi) fundou a dinastia Aiúbida. Sua guarda era composta por mamelucos, escravos guerreiros, de origem estrangeira. O Islamismo sunita dominou a cultura egípcia e o território do Egito foi expandido até a Síria. Saladino reinou até 1193. Antes de morrer, ele dividiu seu Reino entre seus filhos e irmãos. Seu filho Al-Aziz Othman subiu ao poder no Egito.
Em 1250, os mamelucos turcos assassinaram o herdeiro do trono e assumiram o poder no Egito. Em 1382, o poder passou para os mamelucos circassianos, de origem caucasiana.
Em 1453, os turcos otomanos, comandados por Maomé II, tomaram Constantinopla e seguiram expandindo seu Império.
Os árabes dominavam o valioso comércio das especiarias no Oceano Índico até a chegada de Vasco da Gama, em 1498. O Egito era uma área estratégica de passagem desse comércio, através de seu porto em Alexandria. De lá, as especiarias eram levadas para a Europa por genoveses e venezianos. Em 1509, os portugueses derrotaram os turcos otomanos e os mamelucos egípcios na Batalha Naval de Diu, Índia. Os árabes mantiveram seus postos comerciais no Mar Vermelho, mas o Oceano Índico tornou-se português nas décadas seguintes.
Em 1517, o Egito foi conquistado pelos turcos otomanos e passou a ser governado por um paxá, nomeado pelos turcos, que continuaram a expandir-se pela África. O apogeu do domínio turco no Egito estendeu-se até o final do século 16, mas, exceto por breves períodos, o Egito continuou oficialmente subordinado ao Império Otomano até o início da Primeira Guerra Mundial.
No século 17, os beis mamelucos assumiram grandes poderes no Egito. Os beis eram altos funcionários ou príncipes vassalos que governavam províncias (beyliks) do Império Otomano.
Em julho de 1798, os franceses, com Napoleão, iniciaram a ocupação do Egito. Apoderaram-se de Alexandria e depois tomaram o Cairo. Em agosto seguinte, os ingleses destruíram os navios franceses que estavam no Egito. As tropas de Napoleão ficaram impossibilitadas de retornar à França. Nos meses seguintes, Napoleão reorganizou o Egito e suas defesas, ao seu modo, e incentivou estudos sobre o Egito antigo. Em 23 de agosto de 1799, Napoleão abandonou suas tropas e viajou para a França. Em 1801, os britânicos e os turcos expulsaram os franceses do Egito.
Os paxás turcos retornaram ao poder, mas o mundo estava em um período conturbado com as Guerras Napoleônicas. Em 1805, Mehemet Ali (Muhammad Ali) assumiu o governo do Egito, mas os beis mamelucos continuavam poderosos. Em 1811, Mehemet Ali armou uma emboscada e os massacrou. Nos anos seguintes, ele continuou a expandir seus territórios, embora ainda subordinado ao Império Turco.
Mehemet Ali morreu em 1849. Seus sucessores promoveram reformas sociais e ampliaram a infraestrutura do País. Seu neto, Ismail tornou-se o paxá, em 1863, depois adotou o título de quediva e buscou mais independência, em relação ao Império Turco. Promoveu grande desenvolvimento no Egito. Em 1869, foi concluído o Canal de Suez, mas o Egito ficou atolado em dívidas com os bancos europeus. Em 1876, não pode pagar o serviço da dívida e foi preciso que os europeus, principalmente França e Grã-Bretanha, assumissem a administração financeira do País.
Em 1881, uma revolta liderada por Arabi-Paxá derrotou o quediva. Em 1882, a Grã-Bretanha fez uma intervenção militar e colocou o quediva de volta no trono. O Egito ficou, até 1914, subordinado ao Império Otomano, mas ocupado militarmente pelos britânicos. Naquele ano, irrompeu a Grande Guerra, que arrasou o Império Otomano. O Egito tornou-se um protetorado britânico, mas conquistou sua independência parcial, em 22 de fevereiro de 1922, após uma revolta nacionalista contra a Grã-Bretanha. O Rei Fuad assumiu o poder.
A partir de 1936, as tropas britânicas ficaram concentradas na Zona do Canal. Com a morte de Fuad, naquele ano, assumiu seu filho Faruk.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Egito foi palco de combates entre britânicos e alemães, junto com os italianos que dominavam a Abissínia e a Líbia. O Egito saiu da Guerra economicamente abalado.
Em 1948, o Egito entrou em guerra com o novo Estado de Israel, em auxílio aos árabes da Palestina, mas saiu derrotado, no ano seguinte.
Em 23 de julho de 1952, começou uma revolução liderada por Gamal Abdel Nasser. O Rei Faruk foi deposto e a República foi proclamada, em 18 de junho de 1953. Nasser tornou-se Presidente, em 1954.
Em 8 de junho de 1956, todas as tropas britânicas retiraram-se e o Egito voltou a ser politicamente unificado. O Canal de Suez foi nacionalizado e Nasser proibiu a passagem de navios israelenses. Em 1958, a Síria e o Yêmen uniram-se ao Egito sob a presidência de Nasser, formando a República Árabe Unida, mas a união dissolveu-se em 1961. O Egito continuou adotando o nome de República Árabe Unida até 1972.
As tensões entre Israel e os países árabes aumentavam. Em 1967, os dois lados preparavam-se para um conflito armado. Nasser também proibiu a passagem dos israelenses pelo Estreito de Tiran, um movimento que impedia uma saída deles para o Mar Vermelho. Em 5 de junho de 1967, Israel lançou ataques aéreos ao Egito, deflagrando a Guerra Árabe-Israelense de seis dias. Como resultado, o Egito perdeu o Sinai para Israel.
Nasser faleceu em 1971. Assumiu Anwar Al Sadat. No mesmo ano, foi concluída a nova Represa de Assuan, financiada pelos russos, dando origem ao Lago da Núbia. Esse empreendimento, de grande importância econômica, resultou na relocação de sítios históricos, como o de Abu Simbel.
Em 1973, o Egito e a Síria, lançaram um ataque a Israel e perderam. Nos anos seguintes, Sadat aproximou-se dos Estados Unidos, que mediaram um acordo entre Israel e Egito, em 1978/9, no qual o Sinai foi devolvido. Pelo acordo, Sadat levou o Nobel da Paz, mas foi assassinado, em 1981, por árabes radicais.
O Egito continuou politicamente instável, nas décadas seguintes.
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Israel no Egito, pintura de Edward Poynter (1867), ilustrando templos e monumentos de Tebas e Mênfis, em uma mesma vista.
A Paleta de Narmer (um dos nomes de Menés), frente e verso, cerca de 2.925 aC a 2.775 aC. Acervo do Museu Egípcio do Cairo. Encontrada no final do século 19, em Hieracômpolis, antiga capital do Alto Egito. É uma das peças arqueológicas mais importantes e mais antigas do Egito. Representa supostamente a unificação do Egito.
A Pedra de Roseta no Museu Britânico, em Londres. Encontrada, em Roseta, em 1799, durante a invasão do Egito por Napoleão. Contém inscrições em hieróglifos, em grego e em demótico, sobre um decreto de Ptolemeu V (205-180 aC).
Esse e outros achados permitiram desvendar antigos textos egípcios, dando acesso a uma imensa quantidade de fatos da História do Egito. Após a rendição dos franceses, os britânicos apossaram-se da Pedra.
A Batalha das Pirâmides em julho de 1798, tela de François Watteau (1758-1823). Vitória de Napoleão contra os mamelucos. Apesar de serem grandes guerreiros, os mamelucos não conseguiram deter a pesada artilharia francesa.
Cena da megaprodução Os Dez Mandamentos (1956), sobre o êxodo dos hebreus, do Egito para a Terra Prometida. A história dos hebreus no Egito é conhecida apenas através dos textos sagrados dos próprios hebreus. Não se conhecem referências específicas a esse povo, ou a seus líderes, em textos egípcios antigos.
Hiparco no Observatório de Alexandria, no século 2 aC (ilustração do Universal History, 1894).
Alexandria representou o apogeu da cultura helênica, depois de Atenas. Lá reuniram-se grandes filósofos, matemáticos e outros acadêmicos da Antiguidade. Foi capital do Egito por quase mil anos.
Necrópole de Al-Bagawat, considerada um dos mais antigos cemitérios cristãos do mundo. Alguns mausoléus são decorados com cenas bíblicas. Fica perto do Oásis de Kharga, na região central do Egito. Acredita-se que funcionou, como tal, entre os séculos 3 e 7, mas o local seria uma área de sepultamentos bem mais antiga. Mais: Cristianismo no Egito ►
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Mameluck au Grand Galop, ilustração do artista francês Carle Vernet (1758–1836). Os mamelucos foram trazidos como escravos para o Egito, a partir do século 12, e tornaram-se grandes guerreiros. Chegaram ao poder no Egito, no século 13.
Os portugueses combateram os mamelucos egípcios e os derrotaram na Batalha de Diu, em 1509, pelo domínio do comércio no Oceano Índico. No Brasil, os portugueses chamavam de mamelucos os mestiços de europeus com índios. Esses, passaram a ser denominados posteriormente de caboclos e formam grande parte da população brasileira.
Reconstituição de Aketaton segundo Paul Docherty. Foi a capital do Egito no reinado de Akenaton, por volta dos anos 1330 aC. Quase nada sobrou dela. Seu sítio arqueológico fica em Tell el Amarna.
Uma rua do Cairo em ilustração do artista escocês David Roberts, publicada em 1838.
Note os bazares e a arquitetura ao estilo árabe. Ao fundo, a torre de uma mesquita.
No início do século 20, a Cidade tinha cerca de 570 mil habitantes. No início do século 21, eram quase 8 milhões.
História do Egito
Por Jonildo Bacelar
Matija Podhraški
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